quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O que alguém disse

"Refugia-te na Arte" diz-me Alguém
"Eleva-te num vôo espiritual,
Esquece o teu amor, ri do teu mal,
Olhando-te a ti própria com desdém.

"Só é grande e perfeito o que nos vem
Do que em nós é Divino e imortal!
Cega de luz e tonta de ideal
Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

No poente doirado como a chama
Estas palavras morrem... E n'Aquele
Que é triste, como eu, fico a pensar...

O poente tem alma: sente e ama!
E, porque o sol é cor dos olhos d'Ele,
Eu fico olhando o sol, a soluçar...

Florbela Espanca
"O que alguém disse"
Livro de Soror Saudade

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Resende e as xilogravuras

Não pretendia escrever aqui nada que não fosse poemas... porém ao caminhar por Resende percebi algumas coisas estranhas nos postes e paredes e não resisti... e vi também que somente um texto não seria capaz de traduzir o que pensava então fiz o vídeo que segue abaixo.

Aqui transcrevo as legendas....


Prólogo

A cultura veste-se quase sempre de terno ou blazer, vestido longo e charpe. Refugia-se em museus, salas escuras de teatros e galerias do MAM, MAC e afins, entre pessoas soberbas e chãs. Nas palavras de Monteiro Lobato diria que teorizam a arte pendurada nas paredes ou encenada nos palcos “com grande dispêndio de palavrório técnico, descobrem nas telas intenções e subintenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de interpretação do artista e concluem que o público é uma cavalgadura e eles, os entendidos, um pugilo genial de iniciados da Estética Oculta”.

Contudo, graças a Deus e a alguns espasmos de originalidade, nem tudo é tão modorrento...

Arte Insólita

Eis que um dia um bando de garotos decide fazer xilogravuras... e colá-las nas ruas... se as pessoas não vão à galeria, pois bem, a galeria que venha às pessoas, é assim que se justificam as centenas de gravuras fixadas em postes, paredes, pilares e outros lugares públicos de Resende.

É a arte ofensiva, ofensiva no sentido de sair das galerias esterilizadas e infecundas e invadir a polis, a cidade... Laçando, não pela sofisticação cultural, mas pela curiosidade e pelo insólito, seu público.

A Cidade e a Polis

Cidade

Polis

Comunidade

Arte

Como se relacionam as pessoas com a cidade? Como se relacionam os resendenses com Resende? Haverá, Houve ou há um movimento estético resendense?

O belo, o feio, o prazer de contemplar-se no espelho, será que temos isto? Auto-estima... ou auto flagelação? Autopiedade ou automatismo ao caminhar pelas ruas como se fossem túneis, sem olhar para os lados, sem perceber a cidade, as pessoas, apenas os buracos fazem-se perceber, mais por abundância do que por perspicácia do observador...

O gosto do bom gosto

Arte... sementes de bom gosto... um choque aos olhos acostumados a cinza, cal e asfalto... ou apenas poluição visual? Ou somente anarquia gratuita sujando paredes e pilares de pontes? Arte ou somente contestação barata? Arrogância de artistas petulantes ou um gesto de gentileza urbana? Não sei... porém, acima de tudo, é uma arte incômoda que grita para ser ouvida... que o bom senso nos levar a pensar a respeito... de nós... das gravuras... e da cidade.

Pensemos a cidade... pensemos nossas casas e ruas, nossos rios... nosso espaço, pois como criaturas urbanas este é nosso habitat, este é nosso mundo.

Abraço,

Washington Lemos

domingo, 19 de julho de 2009

Arctitude

Aquela aranha se acumula nas paredes.

Uísque na garganta

Tedioso tilintar do gelo

A solidão no fundo do copo...

Riscos rabiscos palavras insidiosas

Todas aquelas besteiras escritas na inocente folha em branco

Que aceita tudo mudamente... em silêncio...


Corpo

Copo

Saliva

Beijo

Aperto cama cama carma

Braços tortos

Pele ondulada

Cheiro

Perfume

E coisas afins.


Quadris quadris

Arctitude da cintura

De coxas

Quadris quadris

Tão Ardis.


Rodopia

Gira

Gira

Estira-se

E se deita no chão.


Uísque na garganta

Tedioso tilintar do gelo

A solidão no fundo do copo...



WML

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Bazar

Vendo meus sonhos,
dôo meus pesadelos,
empresto minhas asas,
deixo meu sorriso,
passo o que eu sinto
porque não sou capaz
de guardar para mim.
Na falta de interessados
pode levar o que desejar,
meus olhos, minha boca,
minhas palavras tristes,
meu suicídio coletivo,
meus momentos de loucura,
meus instantes de poesia,
minhas breves lembranças,
meu instinto de parasita,
seja lá o que pareça ser
e não é.
Vida, luz, coragem,
fraqueza, solidão,
minha imagem,
minha busca na arte,
tato, audição, paladar,
minha essência empoeirada
na vitrine de um bazar.

Jenny Faulstich
(17/07/2009)

domingo, 12 de julho de 2009

Meu desejo

Meu desejo é de escrever uma poesia e que não seja a mais bela das poesias,
ou mesmo que fale de lindas estórias de amor, nem precisa falar de amor ou, quem sabe,
mesmo que traga algum conteúdo para servir de lição de vida, ou moral, que não fale de
fantasias. Nem precisa servir de inspiração para alguém, se for alegre, ou se for triste,
não importa. Quero apenas achar uma porta.
Não precisa nem ser uma poesia de verdade!
Eu queria poder escrever alguma coisa que fizesse sentido. Sentido para mim e,apenas para mim!
Escrever algo que me elevasse ou diminuísse contanto que me tirasse daqui, que me tirasse de dentro de mim.
Algo que fosse tão pesado que o peso de dentro do meu peito parecesse apenas ar,
algo que fosse tão sujo que a sujeira da minha alma parecesse apenas poeira,
escrever algo tão estranho que a minha própria estranheza ao me ver no espelho
me parecesse a amizade de uma vida inteira.
Mas na vida real os desejos raramente são atendidos, pois poesias pertencem aos poetas,
vontades raramente são saciadas, amores dificilmente correspondidos, e loucuras facilmente confundidas.
Meu desejo é que ninguém deseje o que eu desejo.
Meu desejo é nunca ter desejado você, assim jamais desejaria tanto te esquecer.

Edson Carvalho Miranda
(12-07-2009)

sábado, 20 de junho de 2009

Não sei o que eu quero



Não sei o que eu quero,

Nem por isso tenho dúvidas:

Como meninos imberbes

Fronte seios fartos.


Não sei o que eu quero,

Nem por isso tenho dúvidas:

Como meninos inertes

Fronte seios parcos.


Qual navio à deriva,

Pendente do mastro,

Flana minha alma.


Com beijo e saliva

Descrevo um rastro

Em seu ventre sem calma.


Desejo que me rói.

Saudade que se perde.

O medo que se constrói

No beijo que não se pede.


Não sei o que eu quero

Mas nem por isso tenho dúvidas,

Apenas caos luz exatidão.

O que foi aquilo que não vi então?

Era alma em disparada,

Práxis libertária condensada.

Era algo de estranho

Em coração de estanho.


Não sei o que eu quero

Mas nem por isso tenho dúvidas,

Somente venda olhos escuridão,

Último suspiro do pulmão,

Língua tateando corpo,

Mísera arritmia de morto,

Dentes mordendo a boca,

Marca de ânsia ao retirar a roupa.


Não sei o que eu quero

Mas nem por isso tenho dúvidas:

Como meninos imberbes

Fronte seios fartos.


Qual navio à deriva,

Pendente do mastro,

Flana minha alma.


Não sei o que eu quero

Mas nem por isso tenho dúvidas.


20/06/2009

WML

terça-feira, 16 de junho de 2009

Eu posso

Quando lágrimas

me vêm aos olhos,
retomo a luz
no íntimo do meu ser,
me oriento por ela
e creio que eu possa vencer.
Privilégio da força,
liberdade, compreensão,
simpatia e alegria.
Eu posso, você também!
Erga-se, coragem,
e volte a caminhar,
você também.

F.Leal

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Matando saudade de Quintana

Indiscutível Quintana!
Há pouco tive o prazer de me deparar por acaso com um presente maravilhoso que ganhei da amiga Célia Borges. Estava ele, ali, tão pertinho, escondidinho sob outro livro, meu Quintana de Bolso, bem vindo em qualquer momento. E justamente numa reflexão em que me encontrava, abri o livro em qualquer página, e bastou-me essa, para comover-me numa fusão do que sentia com o que eu lia.
Página 148

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


(Mário Quintana)

Passei o livro novamente a cabeceira, para ir matando a saudade em doses homeopáticas, afinal um poeta que cita Renoir na Canção da Vida, me fita com atenção e acalenta o meu coração.

Jenny Faulstich

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Espera

Olhei a minha volta em busca de um coração,
mas, ironia, não havia nenhum.
Busquei, então, ao longe,
mas ainda assim não encontrei.
Dormi por tantos anos que não sei onde me encontro,
nem em que momento me abandonei na estrada de viver.
E, agora, procuro minha alma que,
perdida, a vagar por onde nao sei achar,
erra por caminhos estranhos,
acompanhando um sonho,
uma ilusão,
sem que eu possa resgata-la.
E fico eu, aqui,
desperta,
sem alma ou coração,
esperando,
observando a multidão.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Alfa Beto

Ouço de meu quarto
A algazarra de crianças sendo alfabetizadas:

“aaa” “iii” ai
“uuu” “iii” ui
“ooo” “iii” oi

Olá! (Respondo mudamente)

Será que logo logo,
Letra a letra,
Sílaba a sílaba,
Devorarão Dostoievski?
Cantarão Bandeira?
Emocionar-se-ão com Quintana?

E continuam:
“ra” “to”
“ca” “sa”
“lou” “co”

Pobres crianças...
Enlouquecerão com Nietzsche.

Abraço,
WML

domingo, 22 de março de 2009

Ocasião da formatura de Janaína B. Lima

Que seus projetos não destruam seus sonhos.
Que a luz não se apague por seus planos.
Que você tenha filhos, e seus filhos outros filhos.
Que cultive uma loucura insana o suficiente
Para lhe deixar rindo pela madrugada, feito demente,
Mas sem nunca tirar seu trem dos trilhos.

Que nasçam flores em seu telhado
E mato em seu jardim,
Assim verá que nem tudo tem lugar marcado,
Nem o amor, nem a vida, nem mesmo o capim.

Que lhe falte o açúcar para o café,
Mas não o café.
Que lhe sobrem feridas no coração,
Mas não falte o coração.
Que lhe falte a pessoa amada,
Mas não o amor.

Que lhe falte a vida, mas não lhe falte você.

WML

terça-feira, 3 de março de 2009

Retomada

Tome seu destino

Entorne no chão

E retome.

Parta em busca,

Pare e depois

Reparta.

Volte-se para si

Pense, repense

E revolte-se.


WML

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Poesia (por duas faces)

Poesia,
fragmentos de sentimentos,
expressão física da dor e do amor.
São as lágrimas que os olhos do poeta não externam.
São as chagas do coração que se martiriza e sofre.
Veículo do poeta para retratar o mundo que o cerca.

O poeta não a cria para alguém ou para ninguém.
O poeta cria para tudo e para todos.
Todos os que amam,
todos os que odeiam,
os que são incapazes de amar
e os que são incapazes de odiar.
Para todos os que se alegram,
todos os que se entristecem
ou os que simplesmente fingem.
Para todos os que sofrem,
todos os que não sofrem
ou mesmo todos os que são ‘normais’ (normais?),
ou mesmo para aqueles que não sofrem tanto.

A poesia é o caminho,
é a expressão que torna possível
traduzir os sentimentos
de um homem e de uma mulher
na forma de imagem compreensível aos olhos
e por através da silhueta,
a imagem chega ao coração.
E basta um olhar,
pois lá, a poesia já está.

Edson Carvalho Miranda e Jenny Faulstich
(27/02/2009)

domingo, 25 de janeiro de 2009

CICLOS

O amor, assim como a brisa, chega de forma inesperada, no dia mais improvável e sem que se perceba essa brisa passa a ter uma importância vital, assim como a água ou o próprio ar. Essa brisa acaba se fortificando em trocas mutuas de energia, de bem querer e, com o passar do tempo, estimulada e apoiada em bases fortes de compreensão, carinho e respeito transforma-se em um vento que invade a abandonada casa e retira a poeira e, embora traga algumas folhas secas há muito já esquecidas, torna-se ainda mais vital. A natureza mostra se perfeita em tudo e, de tão perfeita, não deixa que nada seja perfeito e uniforme, justamente para que exista sempre as sensações de novidade, de falta de chão e o sentimento de se atirar ao vento, que rapidamente se transforma em tempestade, arranca as folhas, trás a chuva, a insanidade e, meio da fúria do tufão, encontramos a felicidade que, com a força de um furacão nos arremessa ao fundo do abismo e, ao mesmo tempo, nos ascende ao paraíso. Como querubins bailamos sob a melodia harmoniosa da paixão em rompantes devaneios de sobriedade.E lá vem o sol, o arco-íris, o recomeçar que nos obriga a mudar que nos leva a evolução revelando a vida, trazendo a seca, a queda no deserto, que nos mostra o marasmo das seguidas ondas de calor e o ritual monótono do balé das areias que vão, tediosamente, de um lado para outro trazendo a lembrança do que se foi e o desejo de novamente o ciclo recomeçar. Tudo são faces do mesmo amor, que já fora tempestade, paixão! Imprescindíveis são discernimento e compreensão, para não se prender ao passado e fazer dele um espelho, espelho mágico! Para o futuro! E projetar do futuro uma reação no presente e novamente deixar a brisa da vida recomeçar seu ciclo. Confiar na natureza e no imortal, na alma, no espírito e dar mais uma chance para a vida e o amor. A calmaria logo se vai e a tão esperada tempestade volta, com ela o sangue a pulsar forte nas veias levando assim, mais uma vez, do cantinho a areia.


Edson Carvalho Miranda

25-01-2009

http://obucaneiroed.blogspot.com/

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Escravos da convicção

(Nada mais Nietzscheano)

Homens, escravos da convicção.

Presos às suas paixões,

aos milagres e às alucinações.

É preferível a mentira,

à convicção cega em sua ira.

É preciso ser fraco.

É preciso negar a fé.

É preciso ter contato

com o mundo como ele é.

O fato de morrer

por uma idéia ou teorias

não lhe deve convencer

de minhas vãs filosofias.

Liberdade de pensar,

de questionar o firmamento.

Liberdade de mudar

o meu pensamento.

WML


Os apaixonados


Somos certezas e interrogações.

Somos restos de estrelas

E todas aquelas besteiras

Que nos dizem as religiões.

Somos panacas apaixonados.

WML

Criatura-Criador

Passo cataclismas a pousar em cada cisma
De querer e divagar o olhar firme e pesado
Dizer de cada coisa um detalhe e uma sombra
Que passeia ao meu lado
Em implosão contrária às razões da matemática
Pelo universo ampliado
Circulam estas pálpebras - tão minhas - as ironias
De só ser um instrumento metamórfico das poesias.


* Poema do meu querido amigo, João Marcello Silva, publicado em 19 de Dezembro de 2002, na coletânea de poesias "Oitava Rima", do Grupo Cultural Oito Deitado.
Confira mais trabalhos do autor em: http://joaomarcellosilva.blogspot.com

Abrçs,
Jenny Faulstich

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SOBREVIVENTE!!!

Nada do que eu diga
Será suficiente
Para repor o que se encontra ausente

Nada do que sofra
Será bastante
Para redimir a dor de cada instante

Nada do que eu chore
Vai lavar
Aquela dor que nos consome devagar

Nada do que eu viva (mesmo tão intensamente)
Vai compensar
A morte que nos consome lentamente

Nada do que eu sonhe
Vai resgatar
Tantos desencantos que há para compensar

Então, eu simplesmente,
Fecho os olhos
E me dedico a respirar!!!!!!!
Sobrevivente!!!!
Célia Borges

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Durma!

Durma!
Mesmo que em meio aos devaneios
de palavras, sussuros, pensamentos.
Continue sua poesia
no decorrer do dia.
Cale seus tormentos da noite
e não espere a vida compreendida,
este mar de valores
onde se banham os amores.
Acompanhe os sonhos com melodia,
eles estão externados no olhar perdido,
desanimado, ríspido, desleixado.
Descanse o coração,
deixe-o tocar uma esperança,
não o mantenha acordado
para sofrer em vão,
ou acostume-se com a solidão.

Franca Leal

Longe dos meus braços

Não durmo
para não sonhar
com um amor para esquecer.

Longe dos meus braços
o amor está,
nada posso fazer.

Guardo um cálice divino
e recolho-me em vômitos e escarros
até o amanhecer.

E em meus braços,
somente dores, tristezas,
horrores a florescer.

* Jenny Faulstich

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cães chupando manga!

E por que não???