quinta-feira, 23 de outubro de 2008

(RE) SENTINDO

Lá fora o dia passa em primavera. Pássaros cantam. O sol torna a brilhar após longo período de estiagem. A vida acontece lá fora e, no entanto, dentro de mim um eterno outono despedaça minha alma.
Porque quando estamos tristes transpomos para o exterior nossas angústias e desafios? Ah! Seria tão mais simples se um dia claro pudesse espairecer nossas dúvidas e fazer-nos mergulhar em ondas de contentamento. Contudo não é o que percebo. Prefiro inclusive os dias nublados que me acolhem em minhas meditações. Os dias claros apenas me fazem perceber o quanto de vida estou perdendo em dores amargas e inúteis. Vazias. Passadas.
E aqui estou eu novamente falando do passado!
P-A-S-S-A-D-O!!!
Não existe mais.
E, no entanto, prendemo-nos tantas vezes àquilo que se foi, revivendo velhas dores, velhas mágoas, plantando conscientemente sementes para futuras lágrimas. Mas o que se há de fazer? Não existe remédio certo para um coração partido. Palavras são apenas palavras e trazem consolo momentâneo para nossas aflições. Como diria Neruda, “é tão curto o amor e é tão longo o esquecimento.”.
A cura sempre vem em doses homeopáticas, ao inverso da paixão, que arrebata e consome em curto espaço de tempo, deixando apenas a dor como lembrança. A grande alegria de tudo isso é saber que, em algum momento, sem aviso prévio, sem um bilhete de adeus, sem sequer um “tchau”, ela se vai. Sem despedidas, sem saudades, sem nada. Apenas uma ausência leve, (pré)sentida em momento de solidão acompanhada.
E é assim neste eterno (re)sentimento de coisas que podemos sobreviver ao eterno ciclo do amor e do esquecimento.

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