domingo, 2 de novembro de 2008

Faxina

Às vezes somos obrigados a mexer em nossas bagunças. É um trabalho difícil... tirar tudo do lugar para ver o que há de útil ainda pode ser um processo lento e desgastante, mas absolutamente necessário.
Ontem estive remexendo em uma caixa antiga. Achei-a em um lugar que pouco ou nunca visito; o porão. É um lugar feio. Escuro. Abafado. Pesado. Tenho certo medo do porão... tenho a sensação de que fantasmas podem me atacar naquele lugar.
A caixa estava muito empoeirada e muito pesada. Percebi que se quisesse abri-la teria q fazê-lo ali mesmo. Com certo esforço consegui soltar a fita que a lacrava e pude rever os objetos que havia posto ali.
Lembranças... tantas que era impossível contar. Amores mal resolvido. Relacionamentos fracassados. Algumas risadas e muitas, mas muitas fotos.
É estranho como podemos nos perder de nós mesmos. Fotos antigas nos mostram a pessoa que éramos e avivam as diferenças entre o que nos tornamos e o que desejávamos pra nós. Encontrei uma antiga foto minha com alguns amigos... faz tão pouco tempo, cronologicamente falando, mas parece que foi há um século.
Éramos tão jovens, tão sorridentes, tão descompromissados com tudo. O que mudou? Onde estão meus amigos? Por que nos afastamos tanto a ponto de não nos dizermos mais sequer "olá"? Vasculho mais um pouco na "caixa" e encontro a resposta, soterrada sob cartas e bilhetes velhos. Orgulho demais cega o espírito e envenena a alma.
Quem nunca foi orgulhoso demais para voltar atrás após um erro? Quem nunca perdeu no tempo um laço importante apenas por não dizer o que deveria ser dito no momento certo? Quantas vezes exageramos e deixamos que a raiva e o rancor destruíssem algo que nos era caro?
Ahhh... apenas quando olhamos para nossas "caixas", aquelas que guardamos em nossos "porões emocionais", é que percebemos quantas coisas inúteis guardamos, ocupando o lugar de outras bem mais importantes. Olhando para minha vejo que guardei muita coisa boba, muita quinquilaria que, hoje, de nada me serve.
E é por isso que é tão difícil fazer faxina. Limpar. Jogar fora. Livrar-se de inutilidades. Dizer pra si mesmo que aquilo que era importante não nos serve mais, não tem mais lugar em nossas vidas. Chega um tempo em que as mágoas devem ser abandonadas, os rancores varridos porta a fora para que algo maior possa entrar.
Retirei algumas fotos da caixa e olhei-a, mais uma vez, certa de que seu conteúdo não mais me interessava. Eram apenas tralhas inúteis, afinal.

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